segunda-feira, 4 de maio de 2009

Literatura Brasileira - Vinícius de Morais

Soneto da Separação


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.


De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente,
Fez-se da vida uma aventura errante,

De repente, não mais que de repente.

Vinicius de Morais (Rio, 1913-1980).