sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Ah! se... diria que...

Francisco de Souza Lima
(1929-2014)
Ah! se eu soubesse dizer o que sinto!!! Diria que sinto saudades da infância, da infância pobre mas feliz; da mamãe fazendo café numa lata de leite, leite em pó enegrecida pela fumaça do fogo de lenha; esperávamos o papai chegar com o pão torrado para o nosso jantar, que dizíamos para a nossa janta.
Diria que éramos quatro irmãos dois meninos e duas meninas; que a nossa casa era feita de madeira tirada no mato, esteios e caibros; tivemos muitas, de chão batido algumas, de assoalhos de tábuas outras.
Esta era no bairro Praça Catorze.
Enquanto morávamos nesta, muitas coisas aconteceram.  Uma que me ficou na memória é que nossa irmã Therezinha foi batizada.  A sua madrinha chamava-se Bruneildes, era funcionária no Departamento de Correios e Telégrafos ; morava num bangalô que lhe custou vinte contos de réis.  A dona Bubu, com o era chamada a dona Bruneildes, mandava todos os anos, nas festas natalinas, brinquedinhos para nós - soldadinhos de chumbo, carrinhos e bonequinhas de celuloides.
Como era bom!... Isto lá pelos anos de 1936 (?)

II
No anos de 1937, mudamo-nos para outra casa que o papai construiu, na Rua Ramos Ferreira, próxima à casa nº 31.  Esta nova casa já era melhorzinha, era toda de tábuas, paredes e assoalhos, era um sobrado.  Como não tinha numeração da Prefeitura, o papai usava, com autorização do vizinho, o nº 381 para receber correspondências e livros do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento a que ele era filiado.  Importante dizer que o papai nasceu e foi criado em um seringal, jamais frequentou escola mas tinha uma certa cultura, era um autodidata.
Algum tempo depois ele construiu outra casinha lá nos fundos do quintal; era um terreno muito grande, terminava em um riacho;era tão grande o terreno que a mamãe nunca deixou que fôssemos até o fim.
Na nova casinha, veio mora o nosso tio Genito casado com a tia Paulina; tinha uma casal de filho: Moacyr e Miraci.
Nos primeiros tempos da nossa nova morada, não tínhamos luz elétrica, usávamos lamparina de querosene, tinha a forma de um funil invertido

(Este me parece ser o início de um livro que meu querido sogro, pai e amigo, começou a escrever de suas memórias, e cujo manuscrito achei hoje entre seus pertences. Transcrevi tal qual está no original, por isso não tem ponto no final pois, certamente ele ia continuar. Resolvi publicá-lo em sua memória)