sexta-feira, 27 de abril de 2012

Julieta de Mello Monteiro - Biografia


Julieta de Mello Monteiro, patrona da cadeira nº 2, nasceu em Porto Alegre a 21 de outubro de 1863.  Menina, ainda, foi residir em Rio Grande na companhia dos pais João Corrêa de Mello e Revocata Figuerôa de Mello.
Aos dezenove anos publica sua primeira obra: Prelúdios, livro de versos prefaciado por Emílio Zaluar. Fugindo ao romantismo vigente, Julieta de Mello Monteiro adota a linha parnasiana no que ela tem de mais descritivo, buscando a forma perfeita e procurando manter-se impassível diante das próprias emoções.
No prefácio de seu segundo livro de sonetos, Oscilantes, publicado em 1892, escreve Luiz Guimarães: “São páginas que se recomendam por si próprias. São de um desenho tão fino, de uma vitalidade tão sincera, de uma construção tão despretenciosa e tão simples que positivamente seduzirão o leitor, da primeira à última estrofe”.
O prefaciador compara seus sonetos a aquarelas que poderiam ser assinadas por pintores como Henrique Bernardell: “Assobiando uma canção dolente/ Segue a passo na estrada um cavaleiro”/ ou a um Rembrandt: “Cai a chuva nas calçadas/ Ronca o trovão tenebroso,/ com horrísonas rajadas/ Sopra o vento impetuoso.”
Simples, descritivos e até mesmo ingênuos são os sonetos que compõem a primeira parte de Oscilantes, como os versos de Antes do almoço:
“Nenê brinca com as bonecas
Junto à janela entreaberta
No pátio em cãozinho alerta
Ladra avisando as marrecas”

Ou então desta Cena doméstica:
“Do guarda-roupa, a mucama,
tira um vestido azulado,
que vai depor sobre a cama
com todo o mimo e cuidado.”

E ainda numa Cena do lar:
“A Filha em frente ao espelho
Prega uma flor nos cabelos
Enquanto escuta um conselho
Do velho pai, seus desvelos.”

São pequenos quadros que deixam transparecer uma infância e uma juventude felizes, onde a poeta é alvo constante de amor e cuidados. Acarinhada pela mãe, a quem dedicou verdadeira veneração, refere-se a esta primeira fase de sua vida como “um tempo abençoado/ que me embalou docemente.”
Na figura paterna encontrou um espírito iluminado, inteligente, digno de sua admiração e respeito. No soneto Em Família, assim o retrata: “O pai de pé, junto à estante/ folheia um grosso alfarrábio,/ Tendo no olhar penetrante/ A luz, os traços do sábio.”
Aos quatro irmãos consagrou grande amizade, dedicando-lhes vários de seus sonetos. João foi descrito como jovial e delicado, “De mediana estatura/ Claro, de leve rosado,/ Tem o cabelo ondeado/ E a tez de viva frescura.” Octaviano Augusto era: “Alto, esguio, irrequieto/ Nervoso, sério, apressado.” Romeu, o mais cantado em seus versos, possuía “Barba loura, mãos compridas/ Estatura de gigante/ Porte altivo, ar arrogante/ Resoluções decididas.” E Revogata, única irmã, foi retratada como sua alma gêmea no soneto Trinta e um de dezembro:

“Somos dois corpos sim, porém uma alma apenas.
Temos o mesmo riso e sempre as mesmas penas,
Uma só vontade, um único desejo
Quanto almejas para mim é quanto a ti almejo,
Se sofres, sofro eu, se ris, também sorrio.”

Ao referir-se ao noivo e futuro esposo, o jornalista Francisco Guilherme Pinto Monteiro, Julieta deixa transparecer um relacionamento tranqüilo e amoroso: “Ela borda, o noivo pensa/ No futuro que os espera”. Mais adiante, já casados, descreve seu quarto em A Alcova: “Em frente ao tocador/ De flores enfeitado/ Um leito encantador/ Com alvo cortinado”.
Seus dias venturosos, porém, não durariam para sempre. Um a um, Julieta foi perdendo seus entes mais queridos: os pais, os três irmãos homens, o marido. Sua vida dourada transforma-se em recordações do passado. Já na segunda parte de Oscilantes, apropriadamente intitulada Dulias, encontramos estrofes melancólicas, de dor, luto, desesperança e imensas saudades. A risonha e sonhadora poeta Julieta de Mello Monteiro escreve agora páginas, de quem “sonhou paraísos e despertou pisando espinhos”.
Dotada de um talento multiforme, prossegue sua trajetória literária publicando um livro de contos Alma e Coração; dois dramas, Coração de Mãe e O Segredo de Marcial, o primeiro em parceria com a irmã Revocata Heloisa de Mello, e um livro de prosa, Berilos, também escrito em parceria com a irmã.
Em seu último livro de poesias, Terra Sáfara, publicação póstuma, há menos convencionalismo que em seus trabalhos anteriores. Trata-se de uma coleção de versos, escritos entre 1924/28, doados ainda em vida à irmã Revocata, onde Julieta canta com elevada inspiração amigos que já partiram, fatos históricos e o belo da natureza, como nesta suave: Tarde de Junho:”Chove e faz frio, o inverno vem chegando,/ Traz como sempre um manto de neblinas,/ Deus recolhe as diáfanas cortinas/ E estende pelo céu nuvens em bando.”
O ecletismo de Julieta de Mello Monteiro foi além. Além do verso, além da prosa, além do conto, além do drama. Com a irmã Revocata fundou, aos 22 anos, o primeiro órgão literário da imprensa feminina, o periódico Corymbo, que circulou por mais de meio século. O primeiro número parece ter sido o de junho de 1885. Em formato tablóide, com quatro páginas e periodicidade variável (foi bimensal, mensal, quinzenal e até mesmo semanal) versava sobre assuntos literários, poesias e breves notas relativas à vida e à obra de pessoas ligadas à arte da palavra escrita. Nele, Julieta publicou a maior parte de sua abundante produção, colorida por discreto panteísmo.
Mesmo após a morte de Julieta, em 27 de novembro de 1928, o Corymbo continuou a circular na cidade de Rio Grande e em todos os estados do Brasil, extinguindo-se somente com a partida da segunda de suas fundadoras, ocorrida em 1944.
No Editorial do número 445, de 21 de outubro de 1939, a redatora Revocata recorda comovida o natalício da irmã, declarando: “Ela cansou em meio a romagem, depondo a pena. Não lhe faltou o desassombro preciso, mas nem sempre a flor deixa de pender quando a rajada é desabrida”.
Apesar do porte franzino e delicado, Julieta de Mello Monteiro revelou-se uma mulher corajosa, idealista e empreendedora. Seu trabalho, publicado em vários órgãos de imprensa do Estado, tornou seu nome consagrado pelos maiores vultos: Emílio Zaluar, Luiz Guimarães, Lobo da Costa, Damasceno Ferreira. Vivendo numa atmosfera de amor, de poesia e de saudade, com seu estro Juliana de Mello Monteiro imortalizou seu nome e glorificou as letras rio-grandenses.